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Clubes de sócios X capital privado das SAF's: futebol argentino vive cabo de guerra

Torcedores do San Lorenzo nesta semana durante partida contra Estudiantes
Torcedores do San Lorenzo nesta semana durante partida contra EstudiantesLUIS ROBAYO/AFP
Na Argentina do presidente ultraliberal Javier Milei, o futebol é atualmente objeto de um cabo de guerra sobre o status dos clubes. O papel social reivindicado pelos sócios é combatido pelo desejo do governo de transformar os times em empresas privadas abertas ao capital estrangeiro.

Torcedor do San Lorenzo "desde que me lembro", Gabriel Nicosia visita as instalações do clube centenário em Boedo, um bairro da classe trabalhadora de Buenos Aires, várias vezes por semana para tomar um café, nadar na piscina ou suar na academia.

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"Vir aqui significa encontrar meus amigos do bairro, é um pilar fundamental da vida cotidiana", explica o contador de 50 anos, um dos 80.000 sócios do San Lorenzo (para um estádio com capacidade para 48.000 pessoas).

Os membros ainda desempenham um papel social e oferecem 300 bolsas de estudo a jovens da comunidade vizinha para que possam usar as instalações do clube, a poucos os do gramado onde os jogadores milionários treinam. Ser sócio-torcedor também é ter voz ativa, já que a mensalidade de 22 mil pesos (R$126,50) lhes dá o direito de votar nas eleições da diretoria.

A relação próxima com os times e os "valores sociais" que fazem dos argentinos um dos torcedores mais fervorosos do mundo, estão em perigo, de acordo com Gabriel, após a chegada das Sociedade Anônimas do Futebol (SAFs). Essas empresas, até agora, são proibidas na liga argentina, e os clubes são associações sem fins lucrativos.

O modelo europeu

A proibição não agrada ao presidente Javier Milei, um grande defensor da desregulamentação em todas as esferas da sociedade. Por isso, o chefe da Casa Rosada defende uma mudança no futebol, em nome da "liberdade" dos clubes de se abrirem ao capital estrangeiro e crescerem, seguindo o modelo dos clubes europeus.

Durante a campanha presidencial de 2023, Milei usou de exemplo o Boca Juniors, do qual é torcedor.

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