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Júlio César rea carreira em entrevista exclusiva ao Flashscore: "Nunca me escondi"

Júlio César fez 87 jogos pela Seleção Brasileira
Júlio César fez 87 jogos pela Seleção BrasileiraČTK / AP / Felipe Dana
Júlio César escreveu seu nome como um dos grandes goleiros da história do Brasil. Do Flamengo ao Benfica, ando pelo auge na Inter de Milão, carrega três Copas do Mundo na bagagem e vários títulos, como a Liga dos Campeões. Aos 45 anos, ele reou toda a carreira em uma entrevista exclusiva.

Júlio conversou por quase uma hora com o Audio Country Manager do Flashscore no Brasil, Ricardo Oliveira Duarte, em um restaurante em Cascais, na Área Metropolitana de Lisboa. Nascido em Duque de Caxias-RJ, o ex-goleiro escolheu a capital portuguesa para viver pelas semelhanças com o Rio de Janeiro.

"Não via Buffon nem Casillas na minha frente", diz Júlio César

Júlio César relembrou o começo no Flamengo, seu time do coração, e contou todos os detalhes do "conto de fadas" na Inter de Milão, incluindo a relação com José Mourinho. Ele mostrou muita frustração pela queda da Seleção na Copa do Mundo de 2010 e falou, é claro, sobre tudo que deu errado no 7 a 1 em 2014.

Já aposentado, Júlio exerceu um papel fundamental na negociação que levou Jorge Jesus ao Flamengo e mudou a história do clube. O ídolo rubro-negro revelou os bastidores dessa história e de muitas outras. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Começo no Flamengo

Em 2023 você ficou em 9º lugar na lista dos melhores goleiros do século XXI, da FourFourTwo. Tantos anos depois da estreia pelo Flamengo, em 1997, imaginou que seu nome estaria nesse lugar? 

Papai do Céu me deu muito mais do que eu imaginava. Fazer uma estreia com 17 anos num time como o Flamengo, de expressão, maior torcida do Brasil, é muito gratificante. E aí você desperta alguma curiosidade para os entendedores do futebol: quem é esse goleiro de 17 anos que já está jogando uma semifinal de Copa do Brasil contra um Palmeiras de Velloso, Djalminha, Viola?

Você sempre quis ser goleiro ou foi um acaso? Muita gente começa como centroavante…

Eu levo um jeitinho com os pés, e no futebol de salão comecei na linha, mas rapidamente migrei para o gol. A minha paixão era a baliza, então não teve como escapar.

Júlio César iniciou a carreira no Flamengo
Júlio César iniciou a carreira no FlamengoDivulgação/Flamengo

Quais são as memórias mais fortes dos primeiros anos de Flamengo? 

Em 1997, depois da estreia, tive a oportunidade de jogar alguns jogos como titular, mas o Flamengo ficou com receio de me lançar tão jovem para um Campeonato Brasileiro, e acabei sendo segunda opção. Aproveitei para aprender com os goleiros mais experientes. Tem memórias muito boas, mas, obviamente, memórias também não tão boas, porque eu peguei um Flamengo que estava atravessando um momento financeiro muito complicado. Caso o clube tivesse dinheiro naquela época, investiria em goleiros, e talvez eu não teria a oportunidade que tive tão jovem. 

Ganhei alguns títulos, nada de expressão, mas foi um trabalho maravilhoso. Esse problema financeiro acabou migrando para dentro de campo. De 2001 a 2004, dos quatro Brasileiros em que joguei, o Flamengo brigou para não cair em três. Por isso que tem uma identificação muito forte do Júlio César com a torcida do Flamengo. É como se fosse um título para a torcida, ter um time que nunca jogou a segunda divisão. Muitos torcedores que não são flamenguistas, por terem vivido com seus times a segunda divisão, queriam que o Flamengo também jogasse. E eu ajudei nesse feito.

Júlio César tem 275 jogos com a camisa do Fla
Júlio César tem 275 jogos com a camisa do FlaDivulgação/Flamengo

Inter de Milão

Depois você assina contrato com a Inter de Milão, mas vai para o Chievo Verona e fica um ano. Como foi essa mudança? Você era um jovem ainda, de 24 anos. 

Eu saí do Flamengo com meu e livre. Meu pai estava conversando com o Porto, e aí a Inter de Milão veio e demonstrou interesse. Obviamente, por questões financeiras e outras situações, a proposta da Inter acabou sendo melhor. Só que eu fui numa janela de janeiro e não tinha aporte comunitário, então contava como jogador estrangeiro. A Inter me deu a opção de ser emprestado para um time de menor expressão ou ficar no Flamengo até junho. 

Eu optei por já ir para a Itália porque queria aprender o idioma, a cultura e o futebol do país, para chegar na Inter mais preparado, porque sabia que a competição seria muito grande. A gente estava falando de sco Toldo, goleiro da seleção italiana na época; Fabián Carini, da seleção uruguaia. Eu estava indo para uma disputa de gigantes. 

A Inter é o clube onde você fica mais tempo, e podemos dizer que é onde foi mais feliz, porque ganhou tudo que havia para ganhar…

Em termos de títulos foi muito legal. Mas onde fui mais feliz é o Mengão. Eu fui muito feliz no Mengão. Não estou sendo hipócrita, não. Todo mundo sabe que o Flamengo é meu time de coração. Poder sair da arquibancada e se transferir para o campo, jogar e representar seu clube de coração, não tem preço. Mas em termos de títulos e de prestígio individual, com certeza a Inter de Milão.

Em 2009, você é considerado o terceiro melhor goleiro do mundo pela IFFHS. Em 2010, segundo. Tinha Casillas, Buffon… Quem era esse Júlio César? 

Entre 2008 e 2010, eu entrava em campo e me sentia um Superman, com aquela capa vermelha. Tinha jogo que eu entrava e falava: "Hoje não vou tomar gol". E você precisa tomar cuidado quando está com essa confiança, porque o excesso de confiança é traiçoeiro. Foi um momento em que eu não via ninguém na minha frente. Com todo o respeito, com toda a falta de modéstia. Não via nem Buffon, nem Casillas, nem ninguém. Até o meu amigo Dida, por quem tenho um respeito enorme, um grande goleiro, e com quem aprendi muito.

E aquela Inter campeã da Champions com José Mourinho?

Foi uma família em que pude participar. Foi realmente incrível, um conto de fadas. Ganhar as três competições mais importantes no mesmo ano… Poucos times tiveram esse feito, e a Inter de Milão foi um deles.

E um time que era um outsider, não era propriamente o grande favorito porque havia o Barcelona de Guardiola…

O Mourinho fez um trabalho espetacular em termos de gestão de grupo, fez com que todos os jogadores remassem na mesma direção. Era realmente uma família. Tinha muitos jogadores de nome, bem-sucedidos, respeitados no mundo do futebol. E dentro do vestiário a gente conseguiu fazer com que não existisse vaidade. Qualquer coisa que desse errado em relação a ego a gente já freava.

O Mourinho extraiu o máximo de vocês?

Com certeza. Era a forma dele de trabalhar. Ele pegava quem estava vivendo um momento normal e transformava no melhor jogador da posição. Eu lembro que na premiação dessa Champions League, todos os jogadores foram da Inter de Milão. Júlio César, melhor goleiro; Maicon, melhor defensor; Sneijder, melhor meia; e Milito, melhor atacante e melhor jogador. O que mais a gente pode querer?

O que Mourinho disse para vocês quando chegou ao estádio para a final contra o Bayern de Munique? 

O legal do mister não foi nem só na final. Foi o momento em que vimos que poderíamos ganhar as três competições. Lembro de uma reunião em que ele foi bem breve e falou assim: “Temos três competições para ganhar. Vocês escolhem”. Ele botou a responsabilidade para cima da gente. “O que eu podia fazer, eu fiz, que é preparar esse time para chegar aonde chegou agora”.

É óbvio que ele tem que preparar a tática e tudo mais, mas em termos de grupo, de homens vencedores, já com aquela confiança inflada… Eu me lembro perfeitamente dessa reunião. E aí foi onde tudo começou a fazer sentido.

Júlio César viveu seu auge com Mourinho na Inter de Milão
Júlio César viveu seu auge com Mourinho na Inter de MilãoKATIA CHRISTODOULOU / EPA / Profimedia

E você teve alguma preparação especial?

Não. Quando você começa a ganhar, ganhar e ganhar, a vitória te traz outra vitória. Isso foi uma frase do Eto’o. Você entra num ciclo sem fim e se sente imbatível. É óbvio que dá o friozinho na barriga, entrar para uma final de Champions League, que é o sonho de todo jogador. Mas depois que a bola rola, você começa a se concentrar para tentar fazer seu trabalho da melhor maneira possível. 

Tem algum lance dessa final que você lembra?

No começo do segundo tempo, logo na saída de bola do Bayern de Munique, eu me encontro cara a cara com Mario Gomez ou Thomas Müller, não sei qual dos dois. Ele toca, eu caio para o lado esquerdo e consigo salvar com os pés. Foi uma defesa muito importante porque foi na saída de bola do segundo tempo, estávamos ganhando de 1 a 0. Tem uma entrevista do Mourinho, inclusive, em que ele fala desse lance.

O Mourinho era o tipo de treinador que falava para mim antes do jogo: “Preciso de você uma ou duas vezes por partida. E quando eu precisar de você, você tem que estar lá”. Para ver o tamanho da responsabilidade que eu tinha nas costas, porque quando se joga num time como a Inter de Milão, quando você é goleiro de grandes times, não tem tanto trabalho. E aí quando a bola chega, tem que estar preparado, senão botam outro no seu lugar.

E agora, como você olha para José Mourinho? Ele está em outra fase da carreira. Teve aquele super Real Madrid, contra Guardiola, e virou algo épico. Mas e depois? Vê um homem diferente? 

Em termos profissionais é difícil falar, porque depois que ele saiu da Inter de Milão, nós não tivemos mais oportunidade de trabalhar juntos. Mas dentro daquilo que posso falar, vejo um mister mais calmo, mais tranquilo. Um Mourinho mais leve, digamos assim.

Seleção Brasileira

Você teve um auge duradouro até a Copa do Mundo de 2010, quando ou por um momento problemático na eliminação para a Holanda. Há uma cobrança muito grande em cima de você, um desentendimento com Felipe Melo…

O Sneijder bota uma bola para dentro da área, e eu e o Felipe acabamos indo na mesma bola. A gente se esbarra, a bola a pelos dois e acaba entrando. Marcou não pelo erro em si, mas pelo momento que a gente estava vivendo no jogo. A gente estava muito bem, a Holanda não estava fazendo muita coisa. E depois que a Holanda achou esse gol, a história mudou um pouco, mas a gente estava bem soberano na partida. Isso que me entristece mais.

Houve muita cobrança em cima de você no Brasil?

Eu sou um cara muito autocrítico, então sei quando erro, me cobro e nunca me escondi. Depois dessa partida, dei uma entrevista para o Tino Marcos, da Rede Globo. Estava num momento muito emotivo e tive que segurar a emoção por causa da eliminação. Eu cheguei na Copa do Mundo como o melhor goleiro do mundo, e o excesso de confiança às vezes te atrapalha, acaba sendo traiçoeiro. 

O time não estava rendendo mais o que conseguiu render no primeiro tempo. A gente acabou sendo surpreendido também com o segundo gol, numa bola de escanteio, do Sneijder, e fomos eliminados. Aquele grupo da Copa do Mundo de 2010 estava redondinho, sabe? Por isso que me machuca tanto. Eu não sei se a gente ia ser campeão, mas aquele grupo merecia jogar a final com a bola dourada contra a Espanha.

De Copa em Copa, vamos para 2014. Você chega em uma posição completamente diferente porque vira reserva do Queens Park Rangers antes da Copa. Vai para o Toronto…

Mas tem uma situação. O treinador (do QPR) era muito amigo do Robert Green, e aí não tem jeito. Eu agarrei muito no Queens Park Rangers, fiz um excelente trabalho, e as imagens não me deixam mentir. Foi um ano espetacular individualmente falando. Mas chegou o Harry Redknapp, que a gente tem que respeitar, sendo amigo ou não. E aí realmente eu ei por um momento complicado em que não estava jogando, mas o Felipão estava me convocando. Então eu tinha que arrumar um clube até para justificar a minha convocação, e aí fui parar no Toronto.

“Foi parar”. Essa expressão é sintomática. 

Não, eu “fui parar” porque nunca me imaginei… E aí tinha a Copa do Mundo se aproximando, e o goleiro tem que ter ritmo de jogo. Foi uma agem rápida, mas muito, muito boa porque eu conheci o futebol americano, mesmo morando no Canadá. Foi uma experiência maravilhosa. E desde já agradeço ao Toronto FC por ter me dado a oportunidade de ir lá, demonstrar meu trabalho e buscar ritmo de jogo para a Copa do Mundo. 

Se o José Mourinho foi importante, o Felipão também foi, porque é o cara que acredita em você quando pouca gente parecia acreditar. 

Às vezes a pessoa que não está dentro do ambiente não sabe o que está se ando. Mas o Luiz Felipe Scolari é um treinador que me conhecia desde os meus 22 anos de idade. Fiquei brigando com o Rogério Ceni até o final da Copa de 2002 se a gente ia ou não, e acabou indo o Rogério. Com méritos também, porque eram três goleiraços, Marcos, Dida e Rogério. Eu era um jovem. E no Brasil tem essa cultura de levar um terceiro goleiro jovem para já preparar para a outra.

Em 2014 tinha o Jefferson em grande fase no Botafogo, mas o Felipão bate o pé e diz: “É o Júlio, vai o Júlio!”.

Não só o Jefferson, o Victor também, vivendo um momento absurdo no Atlético-MG. O treinador tem aquela coisa da confiança da posição. O Parreira tinha o Dida, o Felipão tinha o próprio Marcos, e depois veio a ter comigo também.

E funcionou muito bem, porque contra o Chile você tem seu momento de redenção. É um dos momentos mais marcantes da sua carreira.

Foram 200 milhões de torcedores comigo naquele jogo para pegar aqueles pênaltis, do Pinilla e do Alexis Sánchez. Foi incrível aquele momento. Depois que a gente se classificou para as quartas de final, foi uma coisa maravilhosa, porque é o momento que o goleiro aparece bastante.

Lembra-se do que sentiu no momento em que pegou aquele segundo pênalti, do Alexis Sánchez?

Muita alegria. E muito alívio também, porque jogar uma Copa do Mundo já é uma pressão, imagina jogar no Brasil diante dos seus torcedores? O Mineirão estava lotado. E quando a gente consegue ar de fase, para todos do grupo, e os torcedores também… Porque a Copa do Mundo é um evento maravilhoso. Foi todo tipo de sentimento possível: emoção, alívio, alegria, felicidade. Pensava nos meus familiares também, porque o familiar sofre com a gente.

E é inevitável… Porque depois de poucos dias você sofre um desgosto. Você e os 200 milhões de brasileiros sofrem um desgosto que é difícil de apagar.

Para ver como é o futebol. Por isso que é tão apaixonante. No momento em que você está no auge, logo depois acontece o que aconteceu com a Alemanha. Para quem estava envolvido naquele jogo — jogadores, treinadores, staff — é o momento mais difícil, profissionalmente dizendo. 

Como foi a preparação, na hora de sair para o aquecimento? 

Nós tínhamos perdido o Neymar, que era o nosso craque, o ponto de referência. Internamente foi um baque essa situação. Não estou aqui justificando o que aconteceu, mas a perda do Ney, não só pelo jogador, mas pelo menino naquele momento, o que ele representava também fora de campo. Era um moleque muito feliz, muito alegre. Sou suspeito para falar, mas Neymar, Ronaldinho… Esses jogadores são especiais. Tem esses e depois vêm todos os outros. Neymar, Ronaldinho, Messi, Ronaldo, Zico… Eles têm lá a prateleira deles.

Thiago Silva não jogou também, foram peças importantes. Mas a Alemanha de fato foi merecedora, porque era um grupo que já vinha sendo preparado desde 2006, muito sólido, se conhecia bastante. Isso faz toda a diferença. E a gente não conseguiu jogar um jogo que convencesse a nós mesmos, que merecíamos ganhar aquela competição em casa. Mesmo tendo ganhado a Copa das Confederações em um jogo fantástico contra a Espanha, que era a melhor seleção do mundo. O que pesou muito para esse grupo foi não ter jogado as Eliminatórias, que dão um preparo importante.

Você lembra o que pensou quando foi para o intervalo?

Eu não vou dizer que é clima de velório, porque não se pode comparar futebol com a perda de um ente querido, mas é complicado. Jogando uma semifinal no Brasil, perdendo de 5 a 0 e voltar para o segundo tempo. Teve muito silêncio no vestiário. O Thiago Silva, como era o capitão do time e não pôde estar em campo, começou a tentar botar a galera para cima, mas realmente era muito difícil. Porque a Alemanha estava jogando um futebol redondinho, estava tudo encaixando. A gente não se encontrou naquele jogo, a verdade é essa.

Júlio César em Brasil 1x7 Alemanha
Júlio César em Brasil 1x7 AlemanhaCHRISTOPHE SIMON / AFP

Jorge Jesus

Vamos sair desse 7 a 1 que não vale a pena. Depois você vai para Portugal, no Benfica, e cruza com Jorge Jesus.

O Mister era um amigo.

Ele disse numa entrevista que você foi fundamental para a ida dele ao Flamengo e importante no sucesso, por ter falado com os capitães. Como foi isso?

Quando o Flamengo estava começando a flertar com o Jorge Jesus, uma pessoa importante do clube me ligou perguntando como era ele. E aí eu falei: “Olha, assina ontem!”. Ele estava dando sopa. Falei que o Mister tinha um jeito especial de ser, mas, se não era o melhor com quem trabalhei, era um dos melhores. “Ele realmente é fantástico e, se entender direitinho para onde está indo, tem tudo para dar certo”. E aí depois me ligaram Diego Alves, Diego Ribas, Márcio Tannure (médico), querendo saber quem era o Jorge Jesus.

Eu nunca contei isso publicamente, mas falei assim: “O que posso dizer para vocês é que ele tem um jeito especial de ser, sim, mas vai atrás das ideias dele. Fecha com ele porque vocês vão ter grandes chances de ter sucesso juntos. Quando ele começar com os gritos, entra no ouvido, sai pelo outro”. A minha situação com os capitães foi essa. “Acredita no que ele vai levar para vocês”. Foi incrível.

E depois, você começou a receber muitos s dizendo que tinha razão?

O Diego Alves me ligava e falava que eu fazia parte daquilo. Mas obviamente os jogadores foram inteligentíssimos, entenderam o que o Mister queria deles. Só que o Mister também fala que se não foi o melhor grupo, foi um dos melhores com que ele trabalhou. Aquele grupo de 2019 era fantástico, porque às vezes ele queria dar folga e os jogadores não queriam. Ele ia pedir algum tipo de trabalho extra e os jogadores já estavam fazendo. Encaixou tudo.

E o Jorge Jesus falou com você em algum momento desse período no Flamengo? Ligou para dizer “obrigado”? 

Não, não, mas sou muito amigo do Mister, adoro o Mister. Principalmente depois do que ele fez com meu time, lá no Flamengo.

Você celebrava muito?

Claro. Aquela final de 2019 da Libertadores foi maravilhosa, eu estava com meu filho na arquibancada. Eu não tinha dúvidas. Óbvio que a bola tem que entrar, futebol é assim, mas eu não tinha dúvidas que o Mister ia fazer um excelente trabalho lá. E ele hoje reconhece isso, a torcida do Flamengo, o quão gratificante foi para ele. Não sei se ele vai voltar, vamos ver.

Júlio César trabalhou com Jorge Jesus no Benfica
Júlio César trabalhou com Jorge Jesus no BenficaIgor Russak / Sputnik / Profimedia

E a Seleção Brasileira? Você via o Jorge Jesus lá?

Via, via. Respeitando os treinadores do Brasil, que adoro e são super competentes, mas o Jorge Jesus na Seleção Brasileira ia fazer um trabalho magnífico, sem dúvida nenhuma.

Ele pode ser a virada de chave que o Brasil está precisando? Porque os jogos não estão sendo muito agradáveis… 

Seleção Brasileira é complicado porque você não tem muito tempo para trabalhar, não é igual a um clube, com dia a dia. O Dorival está tentando, está fazendo um trabalho excelente, mas as coisas têm que acontecer. No último jogo, contra o Uruguai, jogaram bem e criaram algumas oportunidades, mas a bola não entra. O Dorival é um excelente treinador, a gente não pode nunca desmerecer o trabalho dele. O que ele vem fazendo nos últimos anos, os títulos que conquistou…

Não saindo dos técnicos, em sua primeira temporada no Benfica você trabalhou com o Ruben Amorim, que era jogador e agora treina o Manchester United. Você já via ali um técnico à sua frente?

Ele é merecedor. Eu conheci pouco o Ruben. Foi minha primeira temporada, acho que ele não jogou tanto. Mas o jogador de meio-campo tem essa facilidade, esse feeling de treinador.

Guardiola, Pirlo…

O jogador de meio-campo atua numa posição em que a leitura do jogo é quase fundamental. Mas o Ruben fez um grande trabalho no Sporting, o torcedor tem ele hoje como um dos grandes ídolos. Ele tem tudo para fazer um grande sucesso como treinador, não só ele, mas como o Filipe Luís agora também no Flamengo. Fico feliz de ver ex-companheiros migrando para esse mundo.

Ficou surpreso com a escolha do Filipe Luís? Como tem avaliado o trabalho dele? 

Não fiquei, não. A partir do momento que o Filipe começa a treinar as categorias de base, acho que o Flamengo já estava desenhando alguma coisa. Apesar de jovem, é uma pessoa inteligentíssima, que trabalhou com grandes treinadores. O Filipe Luís no Flamengo não era um jogador veloz na posição dele, não tinha tanta força, mas era inteligentíssimo jogando. Quem entende de futebol se encantava com o jeito que o Filipe se comportava em campo.

Júlio César encerrou a carreira no Flamengo em 2018
Júlio César encerrou a carreira no Flamengo em 2018Staff Images/Flamengo

Pós-carreira

Eu queria voltar à Copa 2010 porque, na despedida da concentração da Seleção, você fez um discurso emotivo para todo mundo e prometeu voltar em 2014.

É a primeira pessoa que fala sobre isso. Aquele grupo já estava vivendo coisas juntos há três anos, a gente não merecia sair naquele momento da competição. Eu pedi a palavra e falei do Dunga, nosso treinador, que era fantástico, principalmente em termos de gestão de grupo. Era um cara que batia de frente com a imprensa, blindava muito o nosso grupo, e que ele tinha escolhido aqueles 23 para representarem o Brasil. Foi um discurso bacana, emocionante, e muitos jogadores depois vieram comentar comigo, o próprio Dunga também.

Seus ex-colegas e amigos dizem isso, que você é um cara com o dom da palavra, que consegue motivar as pessoas. Você nunca pensou em ser técnico? 

Então dá para ser político, se eu tenho o dom da palavra (risos). Técnico, não, nunca me ou na cabeça. 

Agora eu queria saber o que você faz depois que parou de jogar futebol.

Estou empresariando jogadores de futebol, tentando trazer um pouco da minha experiência, de ter trabalhado com alguns grandes empresários, de ter tido coisas negativas e positivas, até extracampo. Quero trazer um mix disso tudo e trazer para dentro da JC12 Sports, que é a minha empresa, para que a gente consiga representar alguns atletas e fazer com que eles realizem seus sonhos e se tornem jogadores profissionais, bem-sucedidos.

Já está trabalhando com alguém de destaque no mercado ou está começando?

Tenho alguns jogadores jovens e outros mais cascudos, mas eu prefiro não dizer.

Como é sua vida agora, aos 45 anos?

Vivo em Lisboa, viajo bastante, faço alguns eventos de FIFA, UEFA… A JC12 Sports é uma empresa que está migrando agora para o mundo empresarial e espera poder ajudar muitos atletas a serem bem-sucedidos não só dentro de campo, mas fora também, saber gerir o patrimônio, porque a gente sabe que a carreira de jogador de futebol é curta, então tem que pensar no futuro. 

Por que você escolheu Lisboa? Por que não Milão, Rio de Janeiro? 

Porque Lisboa é uma cidade muito parecida com o Rio de Janeiro. Em termos de clima, tudo. E eu como um bom carioca, já fora do Brasil desde 2005, não me vejo morando de novo no Brasil. E aí escolhi Lisboa porque é uma cidade muito parecida com o Rio.