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OPINIÃO: Euro 2024 derruba mito da Alemanha eficiente e moderna

Hora de dar adeus para trens no horário
Hora de dar adeus para trens no horárioAFP
A TV alemã tem destacado nesta semana, com certo embaraço, a quantidade de reclamações e problemas nos bastidores da Euro 2024. Se, na transmissão, o país parece organizar um torneio impecável, in loco a realidade é diferente.

Muitos visitantes chegaram com aquela ideia que a Alemanha é um país eficiente e moderno.

Mas o torneio escancarou o que os locais já sabem faz tempo – essa fantasia só existe em propaganda da Mercedes ou da Volkswagen.

Matéria do Athletic pede para se esquecer a tal eficiência alemã
Matéria do Athletic pede para se esquecer a tal eficiência alemãReprodução

O principal problema está no deslocamento dos torcedores, porque os serviços de metrô e trem nas cidades-sede não estão conseguindo lidar com a demanda.

Mas a Deutsche Bahn (DB), a companhia de trem do país, é alvo da ira dos habitantes já há anos. No ano ado, apenas 63% dos trens regionais da DB foram pontuais – um dos piores índices de toda a Europa.

Se você tentar entrar em um trem no feriado, pode apostar que vai viajar de pé. Com a Euro, a situação piorou. A DB anunciou que está rodando com toda sua carga e já atingiu capacidade máxima.

O pior cenário foi em Gelsenkirchen, após Inglaterra 1x0 Sérvia, onde a superlotação na estação perto do estádio se tornou perigosa.

O New York Times chamou a Euro de "caótica" e se perguntou "o que aconteceu com a eficiência alemã".

As fanzones também estão superlotadas, e houve caos na entrada de alguns jogos – principalmente na abertura em Munique.

A fanzone de Berlim está lotando todo jogo
A fanzone de Berlim está lotando todo jogoAFP

Não aceita cartão?

Uma das críticas internacionais que viralizou na mídia alemã foi a de um correspondente da Sky britânica.

Depois de constatar que não havia nada para fazer na cidade industrial de Gelsenkirchen, ele se mostrou chocado com algo muito comum no país: poucos lugares aceitam cartão de débito/crédito.

"Cuidado, torcedores, nosso câmera teve que ir caçar um caixa eletrônico na hora de pagar a conta", avisou ele.

Amigo, nem na capital Berlim você pode sair de casa sem dinheiro em espécie no bolso. Durante a pandemia, muitos estabelecimentos foram forçados a comprar uma maquininha de cartão, mas muitos voltaram atrás.

"O cartão cobra taxa, e as pessoas não querem que o banco saiba tudo o que eles fazem", justificou ao Flashscore o dono de um restaurante perto da fanzone do Portão de Brandemburgo.

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A Alemanha é old school assim mesmo. Do lado do café onde escrevo, no bairro de Kreuzberg (um dos mais internacionais da capital), há uma loja de máquinas de escrever. Do outro lado da rua, há uma loja de revelação de fotos, que é vizinha de uma loja de vinil.

Destas, só a loja de discos aceita cartão (para compras acima de 10 euros).

A cerveja continua boa, e dentro de campo as coisas funcionam
A cerveja continua boa, e dentro de campo as coisas funcionamAFP

No fim da avenida, fica a subprefeitura do bairro, que não provê serviços online. Se você precisar renovar algum documento ou resolver alguma pendência da enorme burocracia alemã, vai ter de esperar 6 meses para conseguir agendar uma visita.

É possível também tentar agendar uma visita por fax, aquele aparelho paleolítico ainda usado por 80% das empresas alemãs, segundo a Deutsche Welle.

Apenas em Berlim, há mais de 5 mil aparelhos de fax em uso na istração local.

"Não faço ideia de onde vem esta noção de eficiência, eles nunca ouviram falar do nosso aeroporto">Flamengo anuncia contratação de Jorginho por três anos