Sem a presença do técnico Tite, a CBF precisou de uma peça interina, que pudesse começar ao ano e comandar o time nos amistosos e também nos compromissos das Eliminatórias, deixando a casa minimamente em ordem para quando Ancelotti chegar (se é que isso vai acontecer).
A opção por Fernando Diniz, técnico do Fluminense, não foi unanimidade, com o treinador campeão da América precisando se virar com os dois trabalhos. Não demorou para o treinador perceber que a missão seria dura.

Ramon Menezes, técnico da Seleção Sub-23, foi o escolhido para comandar o time antes de Diniz assumir. Mais acostumado a ter sob sua batuta jovens jogadores, Ramon foi o responsável por escolher o time que enfrentaria Marrocos no primeiro jogo do ano.
Mesclando peças de mais experiência com novatos dentro da Seleção, Ramon viu, da beira do campo, a derrota por 2 a 1 em Tanger. Foi com ele que o Brasil seguiu para os dois amistosos seguintes, também diante de seleções africanas, quando uma luz amarela começou a ser acesa.
Depois de vencer a frágil Guiné por 4 a 1, chegou a vez de ser superado quase que na mesma moeda para uma potência africana: Senegal, de Mané. O 4 a 2 mostrou que muito trabalho seria necessário pela frente, com Diniz precisando estudar bem o saldo destes três primeiros jogos do ano.

O começo da (curta) Era Diniz
O primeiro compromisso de Diniz na Seleção foi na estreia das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. O treinador deu oportunidade para caras novas que contam com sua confiança, a exemplo de Nino, zagueiro e capitão do Fluminense, além de André, volante e um dos principais destaques do time carioca na temporada.
O 5 a 1 sobre a Bolívia, em Belém, animou alguns torcedores, ao mesmo tempo em que a crítica lembrava o nível do adversário que foi enfrentado na capital paraense. A ofensividade mostrada pela Seleção contou com o toque do treinador, que não demorou a ter problemas no time canarinho.
O jogo seguinte foi fora de casa, contra o Peru, com uma suada vitória sendo confirmada somente aos 45 minutos do segundo tempo, com gol do zagueiro Marquinhos. O desempenho não foi o mesmo do jogo anterior, com o resultado mais valendo do que qualquer outra coisa.

Turbulência
Foi a partir do terceiro jogo que a coisa começou a se complicar. O adversário era animador para a Seleção: a Venezuela. Um time que, tradicionalmente, nunca deu muito trabalho, com o Brasil costumeiramente mostrando seu favoritismo. Desta vez, essa história não se confirmou, com um amargo empate para dois pontos ficarem pelo caminho na Arena Pantanal.
Neymar, muito xingado por torcedores, discutiu com alguns deles quando um balde de pipoca lhe acertou em cheio na cabeça, a ponto de mandar quem estava na sua direção tomar em alguns lugares indevidos. Começava a turbulência da Seleção, que não conseguiu se encontrar depois disso.
Esta foi a primeira partida sem triunfo de uma série que fizeram o Brasil terminar o ano com quatro jogos sem vitórias.

Feitos negativos inéditos
Os três jogos seguintes tiveram derrotas dolorosas para Uruguai (2 a 0), Colômbia (2 a 1, de virada) e o clássico contra a Argentina, no Maracanã, por 1 a 0. Foi a primeira vez na história das Eliminatórias que o Brasil sofreu três derrotas seguidas.
A agem de Fernando Diniz, que segue no cargo até a Copa América, com amistosos de peso por vir (contra México, Espanha, Inglaterra e, possivelmente, Estados Unidos), seguirá por mais alguns meses. Até o momento, o Brasil não vestiu a cara do futebol do treinador do Fluminense, que ficou devendo no cargo.
O "dinizismo", pelo menos até agora, não chegou à Seleção. A defesa tem sido o principal problema, com sete gols sofridos em seis jogos, número superior a todos os gols sofridos nos 18 jogos das Eliminatórias para a Copa de 2022. Os números negativos se acumulam para mostrar que é preciso uma nova rota neste caminho.
Ele terá mais algumas oportunidades para tirar essa má impressão antes da Copa América chegar, quando o time será comandado por...sabe-se lá quem. Talvez o próprio Diniz siga no cargo caso a situação de Ancelotti não evolua. Se não tem tu, vai tu mesmo...
Futuro incerto
O ano de 2023 será encerrado com o Brasil na 6ª posição das Eliminatórias, a última entre os que se classificam diretamente para a Copa. Esta é a pior posição da Seleção após seis rodadas do torneio.
A colocação incomum para o time pentacampeão do mundo já fez o sinal vermelho ser ligado antes de uma notícia bombástica, que trouxe ainda mais dúvidas sobre o futuro da Seleção em 2024.

A destituição de Ednaldo Rodrigues do cargo de presidente, por possíveis irregularidades na forma como ele foi conduzido ao cargo, em 2017, pode fazer com que Carlo Ancelotti pense duas, três ou quatro vezes antes de assumir compromissos com o Brasil de forma definitiva.
Em todas as oportunidades em que foi perguntado sobre o assunto, o italiano despistou e não ou nenhuma segurança sobre se eles será mesmo o técnico da Seleção em 2024.

Todas as garantias dadas sobre o assunto vieram de terceiros, incluindo Ednaldo, que pode, em 2024, nem estar mais no cargo. Não somente a má fase dentro de campo como as intercorrências na parte política podem fazer Ancelotti repensar se vale mesmo a pena deixar a moral que tem no Velho Continente, com o Real Madrid, para assumir o que tem chances de ser uma barca furada.
Sua missão será tirar o Brasil da situação incômoda nas Eliminatórias e contar com uma forte pressão da mídia e torcida nacional, sedentas por ver a Seleção desempenhar um futebol do tamanho da sua tradição.
