"Se um dos candidatos for um pouco fraco no exame oral, a eleição está tão aberta que pode fazer uma grande diferença", disse à AFP o especialista em Olimpíadas da Universidade de Lausanne (Suíça), Jean-Loup Chappelet.
As apresentações do francês David Lappartient, do britânico Sebastian Coe, do espanhol Juan Antonio Samaranch e dos outros quatro candidatos serão realizadas a portas fechadas por meio de videoconferência, assim como a votação quase parcial com regras drásticas de confidencialidade.
No entanto, cada um deles terá 10 minutos para conversar com a imprensa reunida em Lausanne, na Suíça, a partir das 7h30 (horário de Brasília). Será a primeira oportunidade de ouvir todos eles desde que o alemão Thomas Bach renunciou em agosto ado, dando início à disputa pela sucessão.
Marcada para 20 de março em Costa Navarino, na Grécia, a eleição será o oposto da votação anterior de 2021, quando Bach era o único candidato na disputa e foi reeleito por uma maioria esmagadora.
O consenso em torno do ex-esgrimista bávaro, que está à frente do órgão olímpico desde 2013, foi substituído por um confronto entre sete candidatos com perfis muito diferentes e visões opostas sobre questões econômicas, políticas e ambientais.
Jogos em cinco continentes?
Alguns são ex-campeões, como Kirsty Coventry, 41 anos, do Zimbábue, sete vezes medalhista olímpica na natação, e o líder da World Athletics, Sebastian Coe, 68 anos, bicampeão olímpico de 1500m e diretor dos Jogos de Londres 2012.
Outros são líderes de federações internacionais de ginástica, caso do japonês Morinari Watanabe, e de esqui, caso do sueco-britânico Johan Eliasch, ou combinam funções, como o francês Lappartient, presidente do Comitê Olímpico Francês e da União Internacional de Ciclismo.
Os dois últimos são figuras do poderoso conselho executivo do COI: o príncipe Feisal Al-Hussein, filho do ex-rei da Jordânia, e o espanhol Juan Antonio Samaranch Jr., filho do icônico presidente do COI de 1980 a 2001.
Nos programas revelados no final de dezembro, todos oferecem propostas diferentes para os desafios futuros, desde a receita até o impacto das mudanças climáticas e da inteligência artificial. Possivelmente, a proposta mais surpreendente vem de Morinari Watanabe: o japonês se destacou com a possibilidade de dividir os Jogos Olímpicos em cinco cidades, cada uma em um continente, com uma transmissão contínua.
Poucos meses depois da controvérsia sobre o gênero de duas boxeadoras medalhistas de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris, a argelina Imane Khelif e a taiwanesa Lin Yu-ting, Sebastian Coe e Johan Eliasch insistem em "salvaguardar o esporte feminino", uma questão sobre a qual os rivais têm sido mais discretos.
O que fazer com os russos?
Do lado político, os desafios não são menores para um COI que historicamente se preocupa com a "autonomia" do mundo esportivo: como abordar o diálogo com Donald Trump tendo em vista os Jogos Olímpicos de 2028 em Los Angeles, lidar com o Talibã para proteger as esportistas afegãs e ajudar o esporte palestino, devastado pela ofensiva israelense, e o que fazer com os russos quase três anos após a invasão da Ucrânia.
Sobre a questão, onipresente na última parte da era Bach, David Lappartient e Juan Antonio Samaranch Jr. sugerem cautelosamente que os russos devem ser reintegrados ao esporte, mas sem especificar em que condições: sob uma bandeira neutra, em intervalos e fora das competições por equipes, como nas Olimpíadas de Paris? Ou trazendo de volta o hino, a bandeira e a delegação completa, como nos Jogos de Inverno Milão-Cortina em 2026?
Sebastian Coe, por outro lado, adotou uma política de exclusão pura e simples no atletismo mundial e nem sequer menciona os russos ou os aliados bielorrussos em seu manifesto. A prioridade geopolítica do britânico é "alcançar mercados inexplorados com grande potencial, especialmente na África e na Ásia".
Uma declaração de intenções que não a despercebida quando a próxima grande decisão do órgão será conceder os Jogos Olímpicos de Verão de 2036, para os quais a Índia, a África do Sul e a Indonésia são candidatas, com o Catar e a Arábia Saudita na disputa.