O êxodo de atletas gringas para o Brasil no atual momento pode ser explicado de algumas maneiras. É fato que, assim como o Brasil já é um mercado consolidado e desperta muita atenção e interesse de atletas do futebol sul-americano masculino, tal caminho também é trilhado entre as mulheres.
São exatos 40 anos desde que a prática do futebol feminino no Brasil, em 1979, foi autorizada mediante uma lei. Mas foi somente em 2013 que as mulheres tiveram a primeira edição de um Campeonato Brasileiro, realidade que os homens vivenciavam há décadas.
Desde então, o crescimento tem sido permanente, com a CBF exigindo, desde 2019, que todos os clubes da Série A masculina tenham um elenco feminino. O o seguinte deste processo foi os clubes começarem a formar categorias de base, importantes para abastecer a equipe de cima. No último ano, o futebol feminino quebrou o recorde de público em jogos da modalidade duas vezes seguidas.
"O calendário do futebol feminino ajuda muito. Hoje, temos uma temporada cheia. A vinda de atletas estrangeiras ao nosso país se dá pelo bom nível técnico de nossas atletas, pelo nível de competitividade entre as equipes e pela boas estrutura de trabalho", analisa Adilson Galdino, técnico do Real Brasília-DF.
Atlético-MG e Palmeiras são os times com mais "forasteiras" na elite do futebol feminino do Brasil em 2023. São seis estrangeiras para cada time. As "Vingadoras" contam com uma venezuelana, duas uruguaias e três colombianas. Com a realidade ainda não permitindo olheiros, uma situação que é bem aproveitada pelos clubes são os confrontos diretos.

As experiências internacionais fazem com que atletas estrangeiras sejam observadas e conhecidas de perto. As três colombianas contratadas pelo Atlético-MG para esta temporada vieram após duelo com o Deportivo Cali.
O fluxo migratório também aparece no Real Ariquemes, de Rondônia, que contratou uma paraguaia para esta temporada. Cruzeiro, Flamengo, Real Brasília, Real Ariquemes, Ferroviária, Atlético-MG, Internacional, Grêmio, Avaí Kindermann, Santos e Palmeiras contam, em 2023, com o maior número de estrangeiras em sua história recente. Os que não contam com estrangeiras são Ceará e São Paulo.
Expandindo a exigência
Em busca de valorizar ainda mais a modalidade, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, afirmou que até 2027 todos os times das Séries A, B, C e D precisarão ter uma equipe feminina.
"Acredito que, com o crescimento mundial do futebol feminino, ligas crescendo, novas divisões sendo criadas, novos clubes de camisa investindo na modalidade, ocorre uma ampliação deste 'ecossistema', e assim, uma demanda maior por mais atletas", comenta Thiago Ferreira, analista de desempenho e de mercado e criador de conteúdo no site Planeta Futebol Feminino.
Para Ferreira, o número de estrangeiras poderia ser ainda maior se a visão dos clubes brasileiros fosse expandida. "Acredito que o mercado internacional das equipes brasileiras ainda é muito às jogadoras sul-americanas. E ao contrário das equipes mexicanas, por exemplo, ignora as possibilidades de se contratar jogadoras centro-americanas e africanas", explica.

Brasileiras saindo, estrangeiras chegando
Enquanto estrangeiras chegam, brasileiras deixam o país. Muitas atletas que jogam por aqui rumam para a Europa ou Estados Unidos quando se destacam. "Isso faz com que novos postos de trabalho sejam abertos. Eles estão sendo ocupados por jogadoras de base e por estrangeiras de países vizinhos", comenta Ferreira.
Das 23 atletas convocadas recentemente pela técnica Pia Sundhage, da Seleção Brasileira, 16 atuam fora do país, principalmente na Europa.
O custo-benefício de atletas estrangeiras fala mais alto quando os clubes precisam repor suas peças. "Essa maior competitividade inflaciona o mercado, isso aumenta a cada ano. O assédio é grande e muitas brasileiras acabam indo jogar nos principais centros. Na hora de substituir estes nomes dentro deste mercado, as sul-americanas aparecem como uma boa opção para manter a qualidade", explica Carol Melo, gerente do futebol feminino do Atlético-MG.

Confira o número de estrangeiras de cada time da Série A1 do Brasileirão Feminino
Athletico-PR: uma
Atlético MG: seis
Bahia: uma
Ceará: nenhuma
Corinthians: uma
Cruzeiro: duas
Ferroviária: duas
Flamengo: três
Grêmio: duas
Internacional: três
Kindermann: quatro
Palmeiras: seis
Real Ariquemes: uma
Real Brasilia: quatro
Santos: quatro
São Paulo: não tem