Falecido no dia 1° de maio de 1994, no GP de San Marino, Senna começou a sua carreira na Fórmula 1 em 1984, com a Toleman. Mas a primeira das 41 vitórias que conquistaria ao longo da sua carreira aconteceu no Autódromo do Estoril, no dia 21 de abril de 1985.
O GP de Portugal foi o segundo das 16 corridas daquele ano, sucedendo o GP do Brasil. O campeão seria Alain Prost, da McLaren, que se tornou o primeiro francês campeão da Fórmula 1, enquanto Senna fecharia a temporada na quarta posição, com duas vitórias.
Em Estoril, nesse dia 21 de abril, aos comandos de um Lótus 97T, inferior à concorrência, Senna dominou “desde a primeira curva”, recorda à agência Lusa o jornalista João Carlos Costa, comentarista de Fórmula 1 em um canal esportiv, que naquele dia exerceu as funções de assessor de imprensa.
“A corrida foi uma chatice de todo tamanho. O Ayrton Senna fez uma prova fantástica, mas, em termos de corrida, não houve história nenhuma. Foi uma vitória fácil e uma demonstração de superioridade incrível”, sublinhou.
Também presente no Estoril há quatro décadas estava o jornalista Adalberto Ramos, enviado especial do jornal O Jogo. Tinha sido da sua autoria a primeira entrevista de Ayrton Senna a um jornal português, dois anos antes. “Foi uma coisa do arco da velha”, recorda à Lusa.
Surpresa para todos
Atualmente exercendo funções de assessor de imprensa, Adalberto Ramos lembra que o triunfo surgiu “contra todas as expectativas, até porque as atenções do GP não estavam viradas para o Senna”.
“Ele não demonstrava que lutaria pela vitória. Começou surpreendendo logo nos treinos, quando obteve o melhor tempo. O que fica do dia da corrida é uma tempestade, uma coisa louca, como poucas vezes aconteceu na história da F1”, lembra.
Para o então jornalista, “era impressionante a maneira como Senna guiou, como dominou a corrida". "Todos ficaram impressionados. Dava para perceber que era um talento diferente”.
Volta por cima
O dia até começou mal quando a caixa de câmbio do Lótus de Senna quebrou ainda pela manhã, nos treinos.
Na corrida, o fato de ter chovido durante toda a prova, especialmente entre os 70 e os 85 minutos - que terminou com 67 voltas, uma antes do previsto, devido ao tempo limite de duas horas que poderia ter qualquer corrida-, levou ao domínio avassalador do piloto brasileiro.
“A vitória não foi uma surpresa total, mas teve impacto por ser como foi. Dobrou todos os carros, menos a Ferrari do segundo classificado, o (italiano) Michelle Alboreto. Ele assumiu a liderança na primeira curva e nunca mais ninguém o viu”, afirma João Carlos Costa.
O jornalista lembra que a quase vitória em Mônaco um ano antes, também sob chuva (a corrida terminou antes do previsto, com a vitória de Prost, que tinha sido ultraado por Senna) e o terceiro lugar em Portugal em 1984 já tinham despertado a atenção do público.
Outros tempos
A corrida foi disputada debaixo de um dos maiores dilúvios na F1. Ao ponto de, se fosse hoje, 40 anos ados, João Carlos Costa acreditar que não teria acontecido. “Se fosse hoje, não haveria corrida. Era uma Fórmula 1 diferente. Não sei se melhor ou pior, mas diferente”, frisa.
Mas esta seria apenas uma das exibições que o piloto brasileiro fez debaixo de chuva e que entraram para a história. João Carlos Costa recorda a de 1993, em Donnington Park, Inglaterra, quando ultraou cinco pilotos na primeira volta para assumir a liderança.
Voltando a 1985, para a história ficou o primeiro dos 41 triunfos de Senna, que viria a sagrar-se tricampeão (1988, 1990 e 1991) em Portugal. Nove pilotos terminaram aquela corrida de 1985 disputada no dilúvio de Estoril.